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sábado, 7 de maio de 2011

Conto - Na luz Vermelha da Tarde



    Ainda embargada num sono profundo, o rádio relógio me desperta ás 7 da manhã e todo ambiente é invadido por uma melodiosa e suave música. Notei pela janela um dia escuro e chuvoso. A música foi interrompida pelo noticiário, notificando um corpo de uma menina encontrada afogada na beira da praia.
-Que desgraça, penso eu, pra se começar um dia. Se não fosse o meu querido despertador, eu estaria sonhando os melhores momentos dos meus sonhos. Mas tudo bem, ele sempre sai vitorioso. O primeiro ponto da manhã é dado ao meu ilustre despertador. Todo dia ele me arranca do melhor lugar que existe para se estar numa manhã.
E assim, diante de um dia que começara caído, pensei: Vou ou não vou para a minha obrigação de todos os dias? E antes que a preguiça ou a coragem falasse mais alto, o rádio anuncia que o corpo encontrado havia sido identificado e nesse momento fiquei em estado de choque.
Não poderia acreditar que aquela menina que a pouco conheci, teria morrido assim, tão jovem.Joguei o rádio-relógio pela janela e chorei muito, além disso, não sei lidar muito com a morte, por que sempre deixa uma sensação estranha de nunca mais na vida a gente  irá rever uma pessoa que se fora.
Olívia era o seu nome, meio menina, meio criança... Linda, dessas que qualquer família pensaria em adotar, mas que temem, pois uma vez delinqüente, sempre será uma delinqüente.
Mas apesar de sua tristeza pela agressão familiar e policial, ela alimentava sonhos dourados, acreditara, porém, que um pouco de felicidade ainda bateria em sua porta...Doce ilusão...
Lá fora, a chuva ainda insistia, como se o dia chorasse rumores de agonia e morte.Olhei pela janela e meus pensamentos me levariam pra longe, mas precisamente numa tarde alaranjada de frente pro mar...
Via-me sentada num banco de pedra ao pé de uma amendoeira, absolvida em meus pequenos problemas, quando ouço uma voz sumida, um quase sussurro...
-Moça! Me arranja um cigarro? Permaneci ma mesma posição que me encontrara.
-Moça, ta surda, me arruma um cigarro? E ainda com olhos fixos na praia resmunguei:
-Vai te embora!
-Está bem, respondeu ela, não precisa ficar brava e dá licença que eu também quero ver o mar. Assustei-me e me virei disposta a expulsa-la, no entanto, desarmei-me diante da petulante.
-Você não dá é por que não tem, não é? O seu jeito polido e meigo comoveu-me. Notei nela uma aura especial.
-É verdade, eu não fumo. Respondi enquanto me afastava pro lado, afim de que ela melhor  pudesse ver o mar.E ela prosseguiu.
-Eu sempre venho aqui todas as vezes que as tardes ficam assim, com o por do sol avermelhando toda a praia, e este banco é o meu preferido.
Naquele momento prestei mais atenção nela e eu era só ouvidos.Contava-me acontecimentos extraordinários, aventuras tamanhas que supunha com mais idade o que ela realmente aparentava. Indaguei onde morava. Disse não ter moradia certa, a rua era o seu pouso habitual. Notei que seus olhos tornaram mais tristes e com a voz velada ela prosseguiu: - Eu fugi de casa há muito tempo, por que não agüentava mais tanta pobreza. O sofrimento de minha mãe era muito grande, talvez aí melhorasse com menos uma boca pra sustentar.
Quando era muito pequena, eu e meus irmãos andávamos curvados com a mão na barriga de tanta fome. Agente chorava muito. Minha mãe pedia mamão verde nos vizinhos e nos dava cozido com sal. O dia mais feliz da minha infância foi quando eu e meus irmãos estávamos sentados na beira da estrada e passara um caminhão do qual deixara cair uns pacotes de bolacha. Juntamos tudo e levamos pra casa e neste dia comemos bolachinhas como numa festa. Fiquei tão feliz que nunca mais esqueci, me lembro até a roupa que usava, era um vestido azul...
Permaneci quieta, constrangida e um pouco atordoada. Minutos atrás estava eu remoendo problemas ridículos, desejando coisas que não tinha, no entanto, meus problemas caíram na insignificância...
Por alguns instantes, ela abaixara-se revirando o conteúdo de uma sacola que ela trazia consigo e tirara de lá um velho e encardido urso de pelúcia, que provavelmente o acompanhava em muitas de suas andanças pelo mundo.
-E então Jonas vamos nessa? Disse ela num tom de despedida e, antes que eu dissesse alguma palavra, ela se distanciara. Entretanto, ainda podia vê-la ao longe andando descalça sobre a espuma na beira da praia sob a luz vermelha da tarde.
Dois dias depois após sua morte, resolvera ir até a praia e sentei-me no mesmo lugar e recordar aquele encontro sob a mesma luz alaranjada. Resolvi de súbito, caminhar pela praia e toda conchinha encontrada eu atirava pro mar. Entre uma conchinha e outra eu tive uma surpresa. Encontrei o Jonas, o velho urso, peguei-o imediatamente, sacudi o excesso de areia e passei os dedos sobre os seus olhos de vidro. Apertei-o contra o meu peito e atirei-o no mar ao encontro de Olívia.
Naquele momento no céu uma vaga nuvem se esvaia solta na amplidão vermelha daquela tarde. E o passado não voltaria...
De volta pra casa, no caminho passei numa loja e comprei um despertador novo, afinal a vida
continua...
                                                     
Lili Rebuá
     

(Este conto foi premiado em 2005 no concurso da Fundart)




Juíza usa sua própria história para desmascarar as falácias da tão propalada meritocracia.


Símbolo da resistência

Ana Júlia discursou na quarta-feira (26) na tribuna da Assembleia Legislativa do Paraná para defender a legitimidade das ocupações de escolas como forma de luta pela qualidade da educação pública.
Segundo a ombudsman da Folha, uma espécie de ouvidora que atua sob a perspectiva dos leitores do jornal, a cobertura da imprensa é tímida para a dimensão da luta dos estudantes contra a reforma do ensino médio (MP 746) e contra a PEC 55 (antiga PEC 241) que congela investimentos na educação por 20 anos.

Do Canal O Mundo segundo Ana Roxo


Explicações simples para assuntos complexos 

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