ENCONTRO
Autora: Dirce Marangoni
–Fulana, como vai? Há quanto tempo... Faz já dois anos que nos encontramos... Foi na missa de sétimo dia de sicrano... Pois é, a vida é assim mesmo... descansou... depois de tanto sofrimento...

Como o túmulo era no outro extremo do cemitério, o trajeto do velório até lá, foi lento.
O cortejo seguia aos grupos, relembrando algumas passagens da vida, que nem tinham nada a ver com o morto.
–Você recorda o dia que caiu do bonde? E a vez que ficou presa no elevador, duas horas, só você e o negão ascensorista? A conversa seguia neste ritmo descontraído, uns risinhos abafados...
Prazer do reencontro, dos parentes, dos amigos de longa data.
Descida do caixão, filhos, esposa, jogavam sua pá de terra e aquela frase voltada à memória: “Do pó vieste, à ele voltarás!”
Dando por falta do tio, procuraram e ele se achava atrás de um belo túmulo, todo em mármore preto, Família Pastore.
E o tio, com muito respeito, pedindo licença e desculpando-se, mas precisava com urgência se desaguar, e ali era um lugarzinho providencial.
Quando voltava, outro velhinho, também apertado, procurava um local adequado. O tio apontou-lhe o cantinho, deu uma piscada e saiu para se despedir dos últimos retardatários. Bem, como não deu para pôr as fofocas em dia, um grupo se reuniu e a noite terminou numa bela cantina do Brás, com direito a música italiana, cantada por um japonês, mágicas do garçom e por fim, um freguês posto na rua, porquê queria beber no balcão. Um grande aviso dizia: “Não servimos bebida no balcão, não insista.” E ele insistiu...
Pra terminar aquele dia, nada como uma brigazinha das boas, nada de tiros, nem facadas, só uns sopapos bem dados, escorregões no molhado, muitas risadas e quando perguntaram ao porteiro, o que aconteceu com os dois rapazes e ele respondeu:
-Que rapaz? Não sei de nada... O que foi?
Conto premiado em sua 4a edição em 2o lugar no Concurso Washington de Oliveira
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