Por Alexandre Meira
Historiadores do futuro tenham piedade de nós. Sabemos, e aqui falo em
nome dos leitores que concordam com o conteúdo desse artigo, do tamanho da
encrenca que vocês estão lidando ao procurar entender essa democracia latina em
plena crise de puberdade no amanhecer do século XXI. Trabalho árduo. Apesar de
ser este um dos principais cuidados do historiador profissional, sabemos como
deve ser difícil aos olhos de quem, advindo sabe-se lá de qual contexto futuro
– que suponho eu, enquanto civilização, há de caminhar sempre para frente –,
tenta enxergar como o presente de hoje conseguiu dar um duplo twist carpado pra
trás em menos de três anos. Mas acreditem: É novidade para muitos de nós aqui
também. Pelo menos para mim que nasci e cresci junto com o último período
democrático brasileiro. Mesmo poucos que possamos ser, sabemos e conscientes
estamos, de que não fazemos, e não queremos fazer parte, desse caldo de ódio
institucional de classe e hipocrisia fascio-religiosa que vem se tornando o
Brasil. Salvo conclusões inevitáveis e necessárias acerca deste tempo, o que
quero dizer, junto com inúmeros leitores desse blog, em português claro, seria:
Nos inclua fora dessa!! Claro que confio no trabalho de vocês, contudo peço
encarecidamente que não nos generalizem a todos, em nome dos gloriosos pepinos
que o futuro ainda nos reserva e que podem estar no colo de vocês neste exato
momento. Hoje, um ano depois de um golpe parlamentar, após a consolidação de
uma quadrilha profissional no governo federal, no meio de uma onda conservadora
gélida varrendo o país, assistindo boquiaberto a Lava Jato ser desmoralizada e
se desmoralizando dia-após-dia, e, como brinde, ainda, sofrer com a imposição
de uma agenda ultraliberal, em forma de pato inflável, arrochar a população
mais pobre do país em busca de uma “modernização”, chega-se fácil, fácil a
conclusão de que no Brasil não há um dilema a ser enfrentado, o Brasil, hoje, é
o dilema.
Falo
em dilema por ser impossível não destacar o rebuliço que tomou conta da imprensa
corporativa quando o assunto são as eleições do ano que vem. Principalmente a
cada rodada de pesquisas eleitorais envolvendo a disputa presidencial de 2018.
Outro dia, no rádio, estava ouvindo o Sardenberg, reconhecido jornalista
político da CBN. Pois é, CBN... eu sei... ainda tento. Após o anúncio dos
resultados da última pesquisa de intenção de votos para presidência da
República do ano que vem, na qual o ex-presidente Lula figura em primeiro lugar
(e já há algum tempo, inclusive), o que se viu foi um autêntico barata voa no
estúdio da rádio com inúmeros comentaristas políticos fazendo malabarismos
analíticos inimagináveis tentando justificar o absurdo de ainda termos um
político como o ex-presidente, que: 1) Está envolvido no maior escândalo de corrupção
do país, portanto no epicentro da Lava-Jato (e do Power- Point!... não
resisti), 2) É recém condenado e está diante de uma iminente inelegibilidade
fulcrada pelo TRF-2. E pior, atribuindo ao povo brasileiro uma suposta chaga
moral, com comentários para lá questionáveis quanto ao gosto. Fazer o quê, se a
criança feia não faz o que os pais ensinam que é certo, né? Pois é... Os
analistas da CBN botavam ovos de pata de tanta incredulidade com o fato de Lula
figurar como presidenciável mais provável, e com viés de alta.
Impossível
não achar graça. Primeiro do choque duro deles com a realidade. Segundo com o
nítido senso de vira-lata, em atribuir ao povo uma suposta culpa, como se a
houvesse, linkando subliminarmente programas sociais com venda de votos
disfarçada. Bem, amigos historiadores, vocês já sabem o resultado dos eleições,
mas vamos combinar que isso é muito engraçado. Se programas sociais são vendas
de votos, por que isenções fiscais milionárias a empresas e conglomerados
também não seriam? E o perdão de dívidas previdenciárias? Quem, se fosse dono
de uma Riachuelo, por exemplo, não votaria em quem perdoasse suas dívidas de
milhões, caso existam? Quem não faria doação de campanha??!!
Olha... Difícil, mesmo, é não
acreditar na tão falada teoria das bolhas de realidade. O que as redes sociais
estão fazendo com a interação entre grupos sociais nesse século é uma revolução
por completo. Ainda bem que vocês, amigos historiadores, já estudaram bastante
sobre isso. Pra gente ainda é uma novidade. As distâncias encurtadas
pelas redes sociais não levaram tão somente a uma aproximação de fato, mas a
uma clivagem em diferentes identitários. Com um perigoso encurtamento do pavio
da tolerância também... Estamos muito mais próximos uns dos outros, mas só de
quem realmente concorda ou manifesta afinidade conosco, valendo o contrário
senso a quem se opõe a nós. Claro! Voltamos a Idade Média e vivemos em feudos.
A tal ponto que, por exemplo, tomamos contextos fechados e tematicamente
definidos, em que por afinidade reúnem-se pessoas e segmentos, como se fosse a
mais pura e verdadeira realidade. Essa é a bolha! E a Imprensa Corporativa
brasileira vive na sua. Como ela não foi democratizada ainda, e,
principalmente, segue comprometida com uma agenda que não passou pelo crivo das
eleições, só consegue se surpreender com o fato de que existe vida inteligente
fora do alcance de seu canhão ideológico, quando ela se mexe na sua frente.
Vide resultado da pesquisa supracitado. Mal consegue entender a existência de outras
bolhas além da sua. E, principalmente, não questiona sequer a própria eficácia
hoje desse poderoso canhão ideológico que ela manipula.
Imagine
que se, por dedução, tomemos que o Mercado, essa entidade impessoal e potente
de manifestação na realidade, é por essência pragmático. E ele é, sabemos
disso. O que seria então da base da pirâmide social que vivemos, o chamado
Povo, essa entidade também potente de manifestação? Sim, porque para os
analistas políticos da CBN pode-se colocar em pauta noções de uma pretensa
cultura de individualismo rasteiro, a tal da Lei de Gerson, como uma
justificativa social à moral desviante do brasileiro manifesta em pesquisas de
intenção de voto. Como se fosse um simples dois mais dois. Um raio X cultural
com base no que essa entidade, o Povo, escolhe como favorito ao cargo que mais
pode interferir em sua própria realidade. Qual seria a conclusão, amigos? O
Povo brasileiro é mau caráter?
É uma ironia da minha parte, claro.
Jamais entenderia uma mídia altamente concentrada e ideológica sem uma agenda
política prévia, a aplicar a cada momento político que esse país apresentar
como oportuno para ela. Sem ingenuidade. A bolha do Jornalismo de Guerra desses
últimos tempos tenta na verdade dissuadir a capacidade daqueles que margeiam o
foco de seu canhão ideológico de fazer escolhas pragmáticas, tal qual o sagrado
Mercado faria. Sob o filtro moralista de quem constata uma alma corrompida.
Façamos então o seguinte exercício: Tente ver fora da bolha, se o Mercado,
principalmente após um Golpe Parlamentar, pode se valer de corruptos contumazes
para implementar sua agenda de país, mesmo que isso interfira nocivamente na
capacidade de toda uma população herdar um futuro de acordo com o que vendeu de
seu esforço sob forma de mais-valia. Por que o Povo, não poderia se valer de
nomes questionáveis ou até de corruptos para fazer valer a sua própria agenda?
Amigos, é uma pergunta dura. Difícil
para ser feita. Difícil para ser respondida. E que precisamos infelizmente
encarar. Longe de julgamentos de quem seriam esses tais “nomes”. Deixo a cada
um que responda para si mesmo, respeitando sua bagagem ideológica, respeitando
todo o espectro político possível de onde venha tal leitor. A pergunta é a
mesma. E não pensem que há aqui uma defesa da candidatura de Lula, por que o
ano de 2018 provavelmente será uma arca de Noé quanto a diversidade da fauna
política disponível. Nós poderemos escolher à vontade. A maravilha da
Democracia está na capacidade de se acertar e, principalmente, de se errar
coletivamente. Como disse antes não é o país que não atravessa um dilema, o
dilema é o país. E nesses momentos difíceis, em quem você confia, a que você se
apega?
Isso me fez lembrar um conto antigo
do folclore das inúmeras ilhas do pacífico: Certa vez um garoto acordou e viu
sua aldeia sendo massacrada por invasores. Imagens aterrorizantes. Um pai em
desespero, antes de morrer mandou que o filho fugisse dali, não parasse para
ninguém na mata e corresse. “Mas pra onde vou?”, disse o menino provavelmente em
lágrimas. “Tenha calma e ouça tudo que puder!” Foi essa a enigmática frase do
pai ao final. “Fuja!”, acrescentou. E o garoto largou todo seu passado ardendo
em chamas e simplesmente correu durante horas. No caminho passou a ter muito
medo, não confiava em nada, nem em ninguém que cruzasse, até que chegou a
várias bifurcações no caminho, que se enredavam infinitamente para um lugar que
para ele era ainda desconhecido. Cansado do sofrimento, sentou e chorou de
desespero. Anoitecia e ele simplesmente não sabia para onde ir. Não sabia o que
fazer. Foi quanto do nada ele sentiu que junto com o vento que soprava seu
rosto um assobio mavioso e leve fez-se ouvir. Eram as árvores, lembrou de
muitas delas perto de onde seu pai costumava pescar. Devia estar perto de lá, e
poderia pescar pra comer. Ele se levantou, limpou as lágrimas e sem pensar
seguiu para onde vinha o som mergulhando no labirinto de bifurcações que se
apresentava.
A história não acaba aí. De acordo
com a região o conto tem alguns finais tristes e outros felizes. É um registro
de história oral repassado por gerações, e que é base popular dos mitos que
envolvem as famosas árvores que cantam em todo sudeste asiático. O curioso da
história é que tais árvores são as ancestrais de nossas conhecidas casuarinas,
que povoam o nosso país inteiro. Quem já esteve perto de uma sabe do que eu
estou falando, impossível num dia de vento não parar alguns segundos para
ouvir. O elemento universal que esse conto nos apresenta é como lidar com o
medo, esse sentimento ancestral. Sempre tomamos o caminho de autopreservação,
individualista, o caminho mais lógico, mesmo que não saibamos que futuro pode
aparecer daí. Isso nos conforta. Nada muito abstrato. Somos pragmáticos nessas
horas. O medo talvez seja a vibração mais em alta do país hoje: medo do
desconhecido, medo dos negros, dos gays, dos pobres, medo do conservadorismo,
medo dos corruptos, medo da sufocante violência urbana, e por aí vai. O medo
das diversas linhas editoriais que compõe o uníssono cartel de mídia brasileiro
em assumir que em uma democracia ideias são postas à prova em debates públicos,
e podem ser negadas. Como já foram. Medo de ouvir o canto que vem de fora da
bolha, principalmente quando não se sabe para onde ir. Ou quando se acha que
tem muita certeza. A Democracia é o canto da casuarina por que ela oferece uma
solução prática no caos. Independente se essa solução será boa ou ruim. Mas ela
pactua. Ela estende a mão ao máximo de pessoas que ela consegue alcançar. Um
país que não escuta suas casuarinas não é um país democrático.
A implosão do centro político
ocorrida nessa atual crise proporcionou algo diferente no país. Há um fosso
entre dois ou mais brasis, isolando-os, e é desse fosso que as instituições
imploram que nasça um novo Rei Davi que unifique as mais diferentes tribos
desnudadas pela quebra do pacto. Sim, amigos historiadores, o pacto democrático
foi quebrado, vocês já devem saber. Normalmente os pactos democráticos no
Brasil duram um pouco mais de 30 anos. Infelizmente. E o pacto atual trouxe
consigo uma coincidência macabra: O fato de ter sido gestado e assassinado pelo
mesmo grupo político, O PMDB. Tal partido hoje é um amontoado de coronéis e
suas bases políticas altamente fisiologizadas. Ocorre que durante a reabertura
democrática, o PMDB, composto então por grandes nomes, foi uma das siglas que
ironicamente ascendeu a pira que iluminou as trevas brasileiras durante saída
do Regime militar. Essa pira veio a se transformar na Constituição de 1988.
Assina a autoria um de seus principais nomes: Ulysses Guimarães. Vinte e oito
anos depois, por conta do Golpe Parlamentar de 2016 perpetrado pelo próprio
PMDB, partido da base aliada do governo, sepultamos a Quarta República
brasileira.
A imagem é célebre: Ulysses Guimarães
brandindo o “livrinho” nas mãos promulgava a “Constituição cidadã”. Mas como
toda peça jurídica que se pretenda Carta Magna, ela possuia erros, quase
inevitáveis e verificáveis só depois. Sérgio Sérvulo de Cunha, Ex-procurador do
Estado de São Paulo em artigo citou pelo menos três: Primeiro a inexistência de
ferramentas jurídicas que protegesse o povo dos efeitos do neoliberalismo, que
ainda estava para chegar, mas já se espalhava pelo mundo, acreditou-se que,
para preservar a Democracia, bastavam os instrumentos da Constituição de 1946;
segundo, o quórum de 3/5 (que é inferior ao da nossa tradição política) para a
reforma da lei magna; e por último os exagerados poderes contemplados ao
Supremo Tribunal Federal, que derradeiramente nos falhou. Contudo, o que se
considerava antes o maior erro da Constituinte: a produção de uma peça
eminentemente analítica, revelou-se um acerto: o povo sempre desconfiou dos
poderes constituídos. Havia razão nisso, pois vimos que foram estes que,
conchavados com os históricos inimigos da democracia constitucional, viriam a
golpeá-la. Algozes cruéis foram também os congressistas, que vieram
desfigurando o texto constitucional com quase cem emendas; foram eles que,
liderados por Cunha, do PMDB, e mesmo sem causa jurídica sustentável, quebraram
o pacto democrático, afastando uma presidente incompetente para lidar com a
crise, mas que além de eleita pelo voto popular, não lhe foi atribuída qualquer
crime de responsabilidade. Lições tiraremos quando se restaurar a democracia,
estamos tomando hoje uma surra da História, mas castigo de mãe sempre dá
resultado. Pena que a conta a ser paga seja tão alta justamente para
aquela tal entidade impessoal que futuramente escolherá quem guiará nossos
passos, e quer queira, quer não, é gerida por um pragmatismo frio, que sempre
desponta nas horas de crise... Se você, por acaso, ainda acha que eu estou
falando do Mercado, desculpe: Falo do povo. Não se decepcione, com as escolhas
dele, por mais incoerentes e até injustas que possam parecer. Lembre-se:
Business as usual.
E por falar no tal do Mercado, amigos
historiadores, o que chama a atenção é o silêncio dos liberais frente as
múltiplas denúncias de corrupção de seus agentes políticos parceiros. Ao
contrário da grita armada quando os corruptos eram os outros. Mas os liberais
brasileiros têm dessas. Veja: O Brasil talvez seja o terreno mais infértil para
a propagação dos valores liberais, falo dos verdadeiros valores liberais.
Quatrocentos anos de escravidão souberam apenas produzir oligarquias
conservadores entupidas de herdeiros, ostentando dinastias políticas. O self
made man por essas bandas morre de inanição se não se associar aos oligarcas. E
assim fez-se a luz: Nasceu por essas bandas o tal do Capitalismo de compadrio.
Desse caldo fedorento e perigoso surgiu o liberal brasileiro, e o seu
personagem principal: o liberal de botequim, capaz de unir em um só discurso
princípios neoliberais e truculência autoritária, isso quando não vomita
preconceito contra minorias. Há plateia para isso nesses anos. Por que? Deve
ser fascinante para os cérebros mais subterrâneos ouvir alguém falar por você
todos os preconceitos e horrores de sua alma, quando você mesmo está impedido
de vocifera-los por uma certa censura social, certo? Pois então, com mais de
dez anos de redução de desigualdades sociais, uma hora esse personagem
tipicamente brasileiro, a quem chamo de liberal de botequim, iria sair furioso
do armário e alcançar as ruas com a camisa da CBF. Mesmo que não fosse por
muito tempo.
Mas não esqueçamos, o liberalismo
brasileiro é um ornitorrinco. Os liberais brasileiros dependem do Estado,
adoram o Estado, mais do que em qualquer outro lugar. São oligarcas na
essência. E como princípios apresentam um claro viés: Privatiza-se lucros,
reduzindo o Estado, socializa-se os prejuízos, após. A estes temos acesso in
natura aqui na terra da sonegação fiscal das grandes empresas (afinal
precisamos atrair investimentos, né?). A que preço? O da barbárie? Só que
saibam que para eles ainda há uma vantagem estratégica nesse atual momento
histórico: Como a agenda neoliberal é impossível de ser aceita se submetida à
debate, e pelo crivo das urnas, por ser profundamente desigual e avassaladora
com a realidade dos mais pobres, poupando-se privilégios, aponta-se o caminho
do conservadorismo cultural como saída, e por onde há uma massa de acólitos
conservadores neopentecostais que irá trilhar, em nome de Deus, agregando valor
eleitoral ao liberalismo... de botequim. Mas hoje, por enquanto, só há
silêncio.
Lembra do fosso que eu falei? Aquele
aberto, dividindo o Brasil, até que alguém surja dos escombros do centro, no
espectro político. Verdadeiros necromantes da Democracia têm saltado e corrido
espalhando ódio, soluções infalíveis e principal dúvidas na cabeça da população
brasileira, já acostumada a tanta pancada. São os tais outsiders. O biônico
Luciano Huck, pelo PRGT (Partido Rede Globo de Televisão), é candidato a ser o
Berlusconi da vez, uma versão, talvez, loucura, loucura, loucura, ...mas o que
pensar de Dória e sua proposta de gestão empresarial-midiática tão sem
sustância como uma farinata? E nem pense em olhar quem está na borda
do outro lado do fosso, por que pode ser que você tenha vontade de pular nele
de uma vez: O capitão Jair Bolsonaro, cabra macho, pero no mucho, defensor do
método das piores ditaduras, incluindo a tortura, soletra com todas as letras
seu preconceito contra gays, negros e mulheres. Este homem religioso, cristão
convicto que é, é o mais novo best friend forever dos princípios liberais,
contrariando toda a inclinação estatizante de seus ídolos, os generais da
última ditadura militar. Vai entender... cabe a nós aceitarmos. Diante disso é
muito mais fácil entender como o medo recorrente e o cansaço pode nos fazer
pragmáticos diante de um futuro sem perspectivas. Um pesadelo real. O pior de
se quebrar um pacto é não ter forças para se criar outro. Basta verificar que
por onde passaram as primaveras árabes derrubaram-se regimes, mas em sua
maioria ergueram-se regimes ainda mais conservadores, desequilibrando um
arranjo social muitas das vezes favorável aos mais pobres de acordo com a
cultura local, isso quando não trouxe a mais cruel barbárie.
Os liberais de botequim, contrariando
os seus princípios clássicos, não se valem da Democracia. Eles cavalgam na
história desse quadrante do planeta, deslumbrados com o capital internacional,
montados em regimes ditatoriais ou, na impossibilidade deles, de assépticos
golpes brancos. Por aqui, digo, se quiser realmente saber como funciona um
Brasil conservador e retrógrado, vote num liberal, por mais absurdo que isso
possa parecer. Talvez por isso, o menino triste na estrada sem saber por onde
ir, só tenha coragem de seguir para onde o canto mavioso da casuarina aponta.
Mesmo que isso não pareça ser o certo aos olhos dos outros. Mesmo sem ter a certeza
se realmente isso vai dar certo. Mas só porque era a maneira mais fácil de
fugir de um sofrimento que o pragmatismo de outros os obrigou a enfrentar.