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segunda-feira, 25 de setembro de 2023

MOVIMENTO EMAÚS DE UBATUBA NA DEFESA DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA


 Resumo do Estágio Supervisionado Diferentes Contextos apresentado ao curso de Licenciatura em História do Centro Universitário Internacional UNINTER.

        

Eliete de Souza Rebuá

 


 “Servir primeiro quem mais sofre” e “Servir antes que a si mesmo, quem é menos feliz”.            

         

    A comunidade EMAÚS é uma associação em defesa dos direitos sociais e objetiva a defesa de causas relacionadas aos direitos humanos, direitos de grupos minoritários étnicos, assim como outros direitos difusos e coletivos. Ilustram essa categoria as Organizações não governamentais (ONGs) em proteção às garantias citadas acima, assim como as associações beneficentes em prol de grupos socialmente desfavorecidos.

Ao passar pelo período de pesquisa obtive a possibilidade de ver de perto o funcionamento interno da Instituição, as facilidades, bem como as dificuldades, que visa defender e promover a dignidade das pessoas que passam por sofrimentos em geral na sociedade. O Movimento Emaús se define como um movimento que luta contra as causas e consequências da miséria e contra a marginalização das pessoas que possui como  lema “a força da partilha” e hoje em dia já se espalha por quase todo o mundo.

No Brasil, há comunidades Emaús em diferentes estados: São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná, Bahia, Ceará, Pernambuco e Piauí. Uma das comunidades de São Paulo, da qual escolhi para este trabalho, se localiza em Vila Abbe Pierre, Rua Dois, número 32, Ipiranguinha, Ubatuba – SP.

           Atualmente, a Emaús colhe várias famílias em várias casas construídas dentro da comunidade, beneficiando um total de 75 pessoas carentes e desenvolvendo atividades que visam à auto sustentabilidade da instituição. Além disso, oferece cursos que promovem a valorização humana e a conciliação do homem com o meio ambiente.

          A comunidade é uma organização formada por grupos de amigos e voluntários que lutam no plano cívico e privado, cujo lema é: “Servir primeiro quem mais sofre” e “Servir antes que a si mesmo, quem é menos feliz”.            

O SURGIMENTO DO MOVIMENTO EMAÚS

 O movimento que surgiu na França, há mais de 70 anos, em 1949, hoje adquiriu maior dimensão e já se espalhou por grande parte do mundo. Sua proposta é fazer com que haja maior solidariedade entre aqueles que vivem na pobreza, fazer com que eles tenham igualdade de direitos e melhores condições de vida. (RIZOMAS 2009)

 A Comunidade de Serviço Emaús Ubatuba nasceu no município em 1990 e foi fundada oficialmente em fevereiro de 1994, pelo padre João Benevides Rosário, de Cachoeira Paulista. O Movimento é baseado no princípio de "Servir primeiro os que mais sofrem", lema inspirado no carismático Abbé Pierre.

 

Comunidade inspira-se no trajecto e filosofia a de vida do seu fundador, o carismático Abbé Pierre, constituindo-se num grupo em que existem companheiros internos (os residentes) e externos. O seu lema é servir primeiro quem mais sofre, apoiando todos os que a procuram, sem cuidar saber de onde ou porque vêm. Oferece, assim, de acordo com os voluntários, outra maneira de viver, em partilha e amizade. Não pedem subsídios ao Estado ou a instituições, pelo que se obrigam a um trabalho esforçado, lado a lado, para conseguirem o sustento. Recolhem bens, restauram-nos e vendem-nos. Dessa forma asseguram as receitas mais relevantes. Os «companheiros» não recebem salários, apenas têm umas pequenas somas no período de Natal e férias. (PORTO, 2008, p.29)

 

Para conduzir o projeto da comunidade Emaús de Ubatuba, o padre convidou Sr. Jorge da Cruz Oliveira, baiano de Ipiaú, ex-morador de rua, que já desenvolvia trabalhos sociais com jovens de rua, em sua cidade. Com base no lema do Movimento Emaús, constituído de pessoas livres e inconformadas com a miséria, sua missão era então restituir a dignidade das pessoas carentes de Ubatuba, através da educação e do trabalho.

Com recursos obtidos da Comunidade Emaús da Europa e do Movimento Emaús Internacional, Sr. Jorge arregaçou as mangas e, em sistema de mutirão, construiu 20 casas, num terreno de 33 mil metros quadrados, abrigando inicialmente famílias da favela da Rua Rio Grande do Sul.

            Atualmente, o Emaús acolhe um total de 21 famílias em 23 casas, beneficiando um total de 75 pessoas carentes e desenvolvendo atividades que visam à auto sustentabilidade da comunidade. Além disso, oferece cursos que promovem a valorização humana e a conciliação do homem com o meio ambiente.

CARACTERIZAÇÃO ESTRUTURAL

 A Comunidade de Serviço Emaús Ubatuba é uma associação civil, de direito privado, sem fins lucrativos, que visa defender e promover a dignidade da pessoa humana em geral, lutar contra a miséria e suas causas junto a pessoas que por qualquer motivo não usufruam dos direitos de cidadania e que de alguma forma estejam à margem da sociedade. Este movimento é uma rede comunitária que fora fundada e desenvolvida desde maio de 1969, seguindo os estatutos de Emaús América Latina e Emaús Internacional.  

Hoje em dia, na comunidade Emaús de Ubatuba, acolhe 21 famílias em um terreno de 33 mil metros quadrados, que são emprestadas às pessoas que lá chegam, até que estas tenham condições de se sustentar. É importante esclarecer que as casas não são doações, funcionam como um empréstimo com a intenção de que a família se estabeleça econômica e socialmente e cada uma das pessoas que vivem lá assume um compromisso com o meio ambiente e tem de cumprir com algumas normas como: conservar a casa, respeitar o próximo e não consumir bebidas alcoólicas. Cada família é responsável por sua própria renda e a meta do Movimento Emaús é manter empregadas todas as pessoas que são aptas a trabalhar.

Na sede da comunidade funciona o atendimento dos moradores e visitantes, , onde ocorrem as assembleias reuniões e palestras. No espaço conta com um laboratório de informática, sala de leitura, marcenaria, horta, campo de futebol e sistema de tratamento de esgoto particular. Todas as casas possuem jardim até dois quartos, sala, cozinha e banheiro. Além disso, há vários projetos e atividades em desenvolvimento, que visam beneficiar ainda mais toda a comunidade e desenvolver suas atividades, dentre estes:

Projeto Traperia: consiste em recuperar objetos usados como roupas, aparelhos eletrodomésticos, móveis, brinquedos, e outros, com a finalidade de vender para as pessoas que não podem comprar esses objetos novos nas lojas, com isso, eles arrecadam dinheiro para pessoas carentes e é uma forma de trabalho para os que recuperam esses objetos.

Projeto Horta Comunitária: A partir do cultivo feito pelos próprios moradores da comunidade, é possível a produção de alface, couve, coentro, salsinha, batata doce, milho, feijão e outros alimentos, para consumo interno por parte dos membros da comunidade.

 Projeto Marcenaria Escola: Com o objetivo da inserção de jovens no mercado de trabalho e geração de renda, foi desenvolvido com recursos de entidades ligadas à igreja (Paróquia Exaltação à Santa Cruz através do Frei Gastone Pozzobon), do Brasil e com uma comunidade da Itália, atende jovens entre 15 e 18 anos que aprendem marcenaria.

Oficina de Oração: Iniciativa do grupo de jovens da comunidade, que tem como objetivo a retirada de jovens e adolescentes da marginalidade, por meio do conhecimento da palavra de Deus, para que aprendam a viver em Comunidade e a fazer o bem ao próximo.

Escolinha de Futebol “Nova Geração Jorge da Cruz” desenvolvida para o grupo de jovens e que leva o nome do fundador do Emaús.

Projeto da Padaria Comunitária: Objetivo de envolver a comunidade num projeto de onde tirarão o próprio sustento.

Coletivo Emaús é o nome da loja de camisetas que mostra a força da criatividade e amor através de camisetas com estampas que falam sobre um caminho, uma verdade e uma vida que começa aqui, mas não acaba aqui! A cada camiseta vendida é doada 30% a projetos assistenciais e missionários espalhados pelo mundo.

Projeto Inclusão Digital: Sonho da comunidade, tendo em vista a necessidade do mundo contemporâneo de se saber informática, baseia-se no objetivo de levar o conhecimento básico de informática às crianças e adolescentes que estão estudando e ainda não tiveram a oportunidade de entrar em contato com a informática, além disso, visa melhorar a aptidão destas crianças e adolescentes ao mundo do trabalho.

Além de fazer o máximo para fornecer independência a estas famílias, o Movimento Emaús também possui um princípio sustentável: “O lixo é separado e vendido; o esgoto é tratado por meio de um sistema alternativo, os resíduos viram adubo para as plantações; os dejetos dos porcos passam por um biodigestor e se transformam em gás natural e o alimento é cultivado em hortas da própria comunidade. Para depurar a água vinda das fossas das casas, é usado o sistema de aguapé - plantas que se alimentam das bactérias das águas, eliminando assim toda a poluição. Assim, doenças como hepatite, agravadas pela falta de saneamento básico, foram erradicadas da comunidade.

         A equipe de trabalho da Comunidade Emaús é constituída pela Junta Administrativa composta por cinco secretários e três conselheiros do conselho fiscal, todos voluntários. A equipe também é formada por moradores que são todos associados e maiores de 18 anos, que prestam voluntariamente, pelo menos dois dias de serviços à Comunidade, conforme estabelece o Estatuto do Emaús. Há também na composição, parcerias, colaboradores e voluntários de instituições e pessoas que contribuem com a Comunidade através de assessorias, cursos, atividades ou doações.

     A formação da Junta Administrativa é formada pelo Presidente da Associação, Secretarias de Assuntos Executivos, Secretário dos Assuntos Financeiros, Secretaria dos assuntos Externos, Secretário de Esporte e Recreação e pelo Conselho Fiscal.
          Todos os membros da Junta Administrativa são moradores da Comunidade Emaús, à exceção do Secretário de Assuntos Externos e a Secretária de Assuntos Executivos.

 

PÚBLICO ATENDIDO PELA INSTITUIÇÃO

 

O público alvo é de famílias carentes compostas por adultos, crianças e adolescentes, sendo que na sua maioria, formada por etnias negra e parda oriundas de várias localidades, que por diversas naturezas de seus sofrimentos foram amparados pela comunidade com idades variadas, onde todos têm o mesmo propósito: sair da miséria e alcançar uma vida mais digna e autônoma.

O movimento se mantém com a ajuda e esforço de todos, que juntos trabalham no sentido de obter sucesso nas atividades que realizam, tirando delas subsídio às suas próprias sobrevivências.

A convivência entre os moradores no geral é boa, mas às vezes acontecem contradições pontuais, nestes casos, a presidente está sempre à disposição, fazendo a mediação para resolver os eventuais embaraços, e para facilitar seu trabalho, ela conta com o livro de reclamações e, a partir dele, ela as chamam para dialogar e solucionar os conflitos. No geral eles são bem receptivos e alinhados com a política da instituição.

 

CONCLUSÃO

Tendo em vista a realidade no dia a dia de uma sociedade desigual, onde muita riqueza se concentra nas mãos de uma pequena parcela da população, onde muitos enfrentam situações miseráveis, vemos como prioridade a reestruturação da sociedade, de modo que esta caminhe no sentido da instituição de uma sociedade mais igualitária, onde todos tenham a oportunidade de, ao mínimo, participarem ativamente e não serem marginalizado.

     Na minha visão Comunidade Emaús caminha em direção a esta utopia, pois, primeiramente, é um projeto que recebe a todo e qualquer um, ou seja, não possui iniciativa de segregação, estando de acordo com o ideal de ser acessível. Além disso, tem como base a cooperação, onde o trabalho de cada um da comunidade é importante para que se atinja o sucesso das atividades do local e, estas, garantem subsídio para que as famílias moradoras tenham uma vida digna e independente.

.           É possível enxergar que os conhecimentos que adquirimos ao longo dos anos sobre a organização da sociedade e do sistema em que vivemos, fica claro que o estabelecimento de uma comunidade como esta não é tarefa fácil, o que torna sua concretização ainda mais admirável - o que pode servir de explicação para o fato da Vila ainda ser relativamente pequena. Ainda assim, com o bom encaminhamento e desenvolvimento desta, em parceria com as outras comunidades Emaús do resto do mundo, acredito que este projeto tem grande potencial como modo alternativo de organização social e modo de vida, fazendo o contraponto com o modo de vida insustentável e competitivo que adotamos hoje em dia.

 

REFERÊNCIAS

 

ESTATUTO DA COMUNIDADE DE SERVIÇOS EMAÚS UBATUBA

 

FREIRE, P. 1987. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra.

PORTO, Bloco de Esquerda, 2008, LIVRO NEGRO SOBRE A POBREZA NO DISTRITO DO PORTO

 UTOPIA E COTIDIANO. RIZOMAS, 2009. Disponível em: http://www.rizomas.net/cultura-escolar/producao-dos-alunos/utopia-e-cotidiano/285-comunidade-de-servico-emaus-ubatuba.html  Acesso em 20/11/2019

   

Juíza usa sua própria história para desmascarar as falácias da tão propalada meritocracia.


Símbolo da resistência

Ana Júlia discursou na quarta-feira (26) na tribuna da Assembleia Legislativa do Paraná para defender a legitimidade das ocupações de escolas como forma de luta pela qualidade da educação pública.
Segundo a ombudsman da Folha, uma espécie de ouvidora que atua sob a perspectiva dos leitores do jornal, a cobertura da imprensa é tímida para a dimensão da luta dos estudantes contra a reforma do ensino médio (MP 746) e contra a PEC 55 (antiga PEC 241) que congela investimentos na educação por 20 anos.

Do Canal O Mundo segundo Ana Roxo


Explicações simples para assuntos complexos 

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