“Servir primeiro quem mais sofre” e “Servir antes que a si mesmo, quem é menos feliz”.
A comunidade EMAÚS é uma associação em defesa dos direitos sociais e objetiva a defesa de causas relacionadas aos direitos humanos, direitos de grupos minoritários étnicos, assim como outros direitos difusos e coletivos. Ilustram essa categoria as Organizações não governamentais (ONGs) em proteção às garantias citadas acima, assim como as associações beneficentes em prol de grupos socialmente desfavorecidos.
Ao passar pelo período de pesquisa
obtive a possibilidade de ver de perto o funcionamento interno da Instituição,
as facilidades, bem como as dificuldades, que visa defender e promover a
dignidade das pessoas que passam por sofrimentos em geral na sociedade. O Movimento Emaús se define como um
movimento que luta contra as causas e consequências da miséria e contra a
marginalização das pessoas que possui como lema “a força da partilha” e hoje em dia já se
espalha por quase todo o mundo.
No
Brasil, há comunidades Emaús em diferentes estados: São Paulo, Rio de Janeiro,
Paraná, Bahia, Ceará, Pernambuco e Piauí. Uma das comunidades de São Paulo, da
qual escolhi para este trabalho, se localiza em Vila Abbe Pierre, Rua Dois,
número 32, Ipiranguinha, Ubatuba – SP.
Atualmente, a Emaús colhe várias famílias em várias
casas construídas dentro da comunidade, beneficiando um total de 75 pessoas
carentes e desenvolvendo atividades que visam à auto sustentabilidade da instituição.
Além disso, oferece cursos que promovem a valorização humana e a conciliação do
homem com o meio ambiente.
A comunidade é uma organização formada por grupos de amigos e voluntários que lutam no plano cívico e privado, cujo lema é: “Servir primeiro quem mais sofre” e “Servir antes que a si mesmo, quem é menos feliz”.
O SURGIMENTO DO MOVIMENTO EMAÚS
Comunidade
inspira-se no trajecto e filosofia a de vida do seu fundador, o carismático
Abbé Pierre, constituindo-se num grupo em que existem companheiros internos (os
residentes) e externos. O seu lema é servir primeiro quem mais sofre, apoiando
todos os que a procuram, sem cuidar saber de onde ou porque vêm. Oferece,
assim, de acordo com os voluntários, outra maneira de viver, em partilha e
amizade. Não pedem subsídios ao Estado ou a instituições, pelo que se obrigam a
um trabalho esforçado, lado a lado, para conseguirem o sustento. Recolhem bens,
restauram-nos e vendem-nos. Dessa forma asseguram as receitas mais relevantes.
Os «companheiros» não recebem salários, apenas têm umas pequenas somas no
período de Natal e férias. (PORTO, 2008, p.29)
Para conduzir o projeto da
comunidade Emaús de Ubatuba, o padre convidou Sr. Jorge da Cruz Oliveira, baiano de
Ipiaú, ex-morador de rua, que já desenvolvia trabalhos sociais com jovens de
rua, em sua cidade. Com base no lema do Movimento Emaús, constituído de pessoas
livres e inconformadas com a miséria, sua missão era então restituir a
dignidade das pessoas carentes de Ubatuba, através da educação e do trabalho.
Com recursos obtidos da
Comunidade Emaús da Europa e do Movimento Emaús Internacional, Sr. Jorge
arregaçou as mangas e, em sistema de mutirão, construiu 20 casas, num terreno
de 33 mil metros quadrados, abrigando inicialmente famílias da favela da Rua
Rio Grande do Sul.
Atualmente, o Emaús acolhe um total de 21 famílias em 23 casas, beneficiando um total de 75 pessoas carentes e desenvolvendo atividades que visam à auto sustentabilidade da comunidade. Além disso, oferece cursos que promovem a valorização humana e a conciliação do homem com o meio ambiente.
CARACTERIZAÇÃO ESTRUTURAL
Hoje em dia, na comunidade
Emaús de Ubatuba, acolhe 21 famílias em um terreno de 33 mil metros quadrados,
que são emprestadas às pessoas que lá chegam, até que estas tenham condições de
se sustentar. É importante esclarecer que as casas não são doações, funcionam
como um empréstimo com a intenção de que a família se estabeleça econômica e
socialmente e cada uma das pessoas que vivem lá assume um compromisso com o
meio ambiente e tem de cumprir com algumas normas como: conservar a casa,
respeitar o próximo e não consumir bebidas alcoólicas. Cada família é
responsável por sua própria renda e a meta do Movimento Emaús é manter
empregadas todas as pessoas que são aptas a trabalhar.
Na sede da comunidade
funciona o atendimento dos moradores e visitantes, , onde ocorrem as assembleias
reuniões e palestras. No espaço conta com um laboratório de informática, sala
de leitura, marcenaria, horta, campo de futebol e sistema de tratamento de
esgoto particular. Todas as casas possuem jardim até dois quartos, sala,
cozinha e banheiro. Além disso, há vários projetos e atividades em
desenvolvimento, que visam beneficiar ainda mais toda a comunidade e
desenvolver suas atividades, dentre estes:
Projeto Traperia: consiste
em recuperar objetos usados como roupas, aparelhos eletrodomésticos, móveis,
brinquedos, e outros, com a finalidade de vender para as pessoas que não podem
comprar esses objetos novos nas lojas, com isso, eles arrecadam dinheiro para
pessoas carentes e é uma forma de trabalho para os que recuperam esses objetos.
Projeto Horta Comunitária: A
partir do cultivo feito pelos próprios moradores da comunidade, é possível a
produção de alface, couve, coentro, salsinha, batata doce, milho, feijão e
outros alimentos, para consumo interno por parte dos membros da comunidade.
Projeto Marcenaria Escola: Com o objetivo da
inserção de jovens no mercado de trabalho e geração de renda, foi desenvolvido
com recursos de entidades ligadas à igreja (Paróquia Exaltação à Santa Cruz
através do Frei Gastone Pozzobon), do Brasil e com uma comunidade da Itália, atende
jovens entre 15 e 18 anos que aprendem marcenaria.
Oficina de Oração:
Iniciativa do grupo de jovens da comunidade, que tem como objetivo a retirada
de jovens e adolescentes da marginalidade, por meio do conhecimento da palavra
de Deus, para que aprendam a viver em Comunidade e a fazer o bem ao próximo.
Escolinha de Futebol “Nova
Geração Jorge da Cruz” desenvolvida para o grupo de jovens e que leva o nome do
fundador do Emaús.
Projeto da Padaria
Comunitária: Objetivo de envolver a comunidade num projeto de onde tirarão o
próprio sustento.
Coletivo Emaús é o nome da
loja de camisetas que mostra a força da criatividade e amor através de
camisetas com estampas que falam sobre um caminho, uma verdade e uma vida que
começa aqui, mas não acaba aqui! A cada camiseta vendida é doada 30% a projetos
assistenciais e missionários espalhados pelo mundo.
Projeto Inclusão Digital:
Sonho da comunidade, tendo em vista a necessidade do mundo contemporâneo de se
saber informática, baseia-se no objetivo de levar o conhecimento básico de
informática às crianças e adolescentes que estão estudando e ainda não tiveram
a oportunidade de entrar em contato com a informática, além disso, visa
melhorar a aptidão destas crianças e adolescentes ao mundo do trabalho.
Além de fazer o máximo para
fornecer independência a estas famílias, o Movimento Emaús também possui um
princípio sustentável: “O lixo é separado e vendido; o esgoto é tratado por
meio de um sistema alternativo, os resíduos viram adubo para as plantações; os
dejetos dos porcos passam por um biodigestor e se transformam em gás natural e
o alimento é cultivado em hortas da própria comunidade. Para depurar a água vinda das fossas das
casas, é usado o sistema de aguapé - plantas que se alimentam das bactérias das
águas, eliminando assim toda a poluição. Assim, doenças como hepatite,
agravadas pela falta de saneamento básico, foram erradicadas da comunidade.
A
equipe de trabalho da Comunidade Emaús é constituída pela Junta Administrativa
composta por cinco secretários e três conselheiros do conselho fiscal, todos
voluntários. A equipe também é formada por moradores que são todos associados e
maiores de 18 anos, que prestam voluntariamente, pelo menos dois dias de
serviços à Comunidade, conforme estabelece o Estatuto do Emaús. Há também na
composição, parcerias, colaboradores e voluntários de instituições e pessoas
que contribuem com a Comunidade através de assessorias, cursos, atividades ou
doações.
A formação da Junta Administrativa é
formada pelo Presidente da Associação, Secretarias de Assuntos Executivos,
Secretário dos Assuntos Financeiros, Secretaria dos assuntos Externos, Secretário
de Esporte e Recreação e pelo Conselho Fiscal.
Todos os membros da Junta
Administrativa são moradores da Comunidade Emaús, à exceção do Secretário de
Assuntos Externos e a Secretária de Assuntos Executivos.
PÚBLICO ATENDIDO PELA INSTITUIÇÃO
O público alvo é de famílias
carentes compostas por adultos, crianças e adolescentes, sendo que na sua
maioria, formada por etnias negra e parda oriundas de várias localidades, que
por diversas naturezas de seus sofrimentos foram amparados pela comunidade com
idades variadas, onde todos têm o mesmo propósito: sair da miséria e alcançar
uma vida mais digna e autônoma.
O
movimento se mantém com a ajuda e esforço de todos, que juntos trabalham no
sentido de obter sucesso nas atividades que realizam, tirando delas subsídio às
suas próprias sobrevivências.
A convivência entre os moradores no geral é boa, mas às vezes acontecem contradições pontuais, nestes casos, a presidente está sempre à disposição, fazendo a mediação para resolver os eventuais embaraços, e para facilitar seu trabalho, ela conta com o livro de reclamações e, a partir dele, ela as chamam para dialogar e solucionar os conflitos. No geral eles são bem receptivos e alinhados com a política da instituição.
Tendo em vista a realidade
no dia a dia de uma sociedade desigual, onde muita riqueza se concentra nas
mãos de uma pequena parcela da população, onde muitos enfrentam situações
miseráveis, vemos como prioridade a reestruturação da sociedade, de modo que
esta caminhe no sentido da instituição de uma sociedade mais igualitária, onde
todos tenham a oportunidade de, ao mínimo, participarem ativamente e não serem
marginalizado.
Na
minha visão Comunidade Emaús caminha em direção a esta utopia, pois,
primeiramente, é um projeto que recebe a todo e qualquer um, ou seja, não
possui iniciativa de segregação, estando de acordo com o ideal de ser
acessível. Além disso, tem como base a cooperação, onde o trabalho de cada um
da comunidade é importante para que se atinja o sucesso das atividades do local
e, estas, garantem subsídio para que as famílias moradoras tenham uma vida
digna e independente.
. É possível enxergar que os conhecimentos que adquirimos ao
longo dos anos sobre a organização da sociedade e do sistema em que vivemos,
fica claro que o estabelecimento de uma comunidade como esta não é tarefa
fácil, o que torna sua concretização ainda mais admirável - o que pode servir
de explicação para o fato da Vila ainda ser relativamente pequena. Ainda assim,
com o bom encaminhamento e desenvolvimento desta, em parceria com as outras
comunidades Emaús do resto do mundo, acredito que este projeto tem grande
potencial como modo alternativo de organização social e modo de vida, fazendo o
contraponto com o modo de vida insustentável e competitivo que adotamos hoje em
dia.
REFERÊNCIAS
ESTATUTO DA COMUNIDADE DE SERVIÇOS EMAÚS UBATUBA
FREIRE, P. 1987. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro:
Paz e Terra.
PORTO, Bloco de Esquerda, 2008, LIVRO NEGRO SOBRE A POBREZA NO DISTRITO DO PORTO