por Lili Rebuá
“Na aldeia Boa Vista, em Ubatuba, o inicio do mundo e da vida é explicado de pai para filho, de acordo com as crenças e tradições da tribo”.

Na criação do mundo, Nhanderú primeiro criou a terra, semelhante ao seu mundo e, ocupado como era em seu mundo, criou o homem, um índio que deveria tomar conta dela.
O índio tomava conta terra da terra, como se a terra fosse um sítio de Nhanderú, e conversava sempre, um fazendo companhia ao outro.
Mas o índio queria ter mais coisas á sua volta, sentia-se só, apesar de estar sempre a conversar com Nhanderú. Disse que gostaria de outras coisas, de ver outras coisas, de ter amigos e ter mais conhecimento.
Ele enjôou da terra e era muito difícil estar só. Nhanderú então criou as árvores, os animais, os pássaros e as pequenas e grandes coisas do mundo, que fazem parte da natureza, e esses elementos se transformaram em amigos do índio.
Mas, com o tempo, o índio achou que não era isso. Ficava muito tempo fazendo as coisas sozinho. Plantava, colhia, tudo dava certo, e o índio cansou. Pediu então a Nhanderú que gerasse outra pessoa humana para conversar, caçar...um amigo.
Aí então Nhanderú falou que ele poderia ter um amigo, mas que não seria igual a ele, não seria um homem e sim uma mulher – uma índia.
O índio esperou e Nhanderú, então, criou a índia. E a índia existiu.
O índio assustou-se com as formas do corpo dela, sentiu-se estranho dentro de si e inquietou-se, perguntou a Nhanderú o que aconteceu, porque aconteceu aquilo. Então Nhanderú explicou a ele, que no futuro teria crianças na terra, que ele e a índia povoaria a terra e tomariam conta de todas as coisas. O índio entendeu e ficou feliz. Esse índio chamava-se Ywiraidja e a índia Kunhakarai.